quarta-feira, 17 de março de 2010

Experiências do Hub SP


Há pouco mais de um ano, o engenheiro automobilístico Franco Fodor, de 41 anos, resolveu deixar o cargo charmoso de diretor regional de vendas das marcas Jaguar e Land Rover na América Latina e abrir com um sócio uma empresa de turismo ambiental. ''O mundo corporativo não me realizava mais. Eu precisava enfrentar e vencer novos desafios”, diz. Em vez de ir a um escritório próprio ou de trabalhar em casa, Franco vai todos os dias para um galpão de 500 m2, na região central de São Paulo, onde aluga uma mesa, abre seu notebook e cumpre suas tarefas.
Franco Fodor, 41 anos, engenheiro “Deixei o cargo de gerente regional da Jaguar para montar minha consultoria. Nada é mais importante do que qualidade de vida e poder inovar”
O novo local de trabalho de Franco chama-se The Hub São Paulo, um espaço para microempreendedores, consultores, profissionais independentes e pequenas empresas montarem sua base de operações. Tem biblioteca, cozinha, acesso à internet e até um balanço para repouso. O aluguel varia de 50 a 660 reais por mês, dependendo do número de horas contratadas, e fica aberto de segunda a sexta, das 8h às 20h. Hoje, o lugar abriga cerca de 130 profissionais de diversas áreas - de economistas a designers. Para se tornar um membro, existe um único pré-requisito: “Comprovar que seu trabalho tem comprometimento com a transformação social ou ecológica do planeta”, diz Maria Piza, coordenadora do The Hub São Paulo. Criado em Londres, na Inglaterra, em 2005, o conceito de escritório coletivo já está em 12 cidades do mundo. Em São Paulo, o espaço foi aberto em agosto de 2008, trazido pelo argentino Pablo Handl, seguindo os ideais originais: reunir desenvolvimento sustentável e trabalho colaborativo.
Taís Carolina Lucilio da Silva, 30 anos,
administradora “Comecei a calcular e notei que iniciativas sustentáveis não são tão caras quanto parecem. É possível montar um negócio verde lucrativo, por isso investi numa marca de roupas ecológicas”

O Hub sintetiza um jeito contemporâneo de encarar o trabalho, que une independência, empreendedorismo e preocupação com o futuro do planeta. É possível organizar seus clientes em dois tipos de trajetória profissional. De um lado estão engenheiros, administradores, advogados. São pessoas que vieram de empregos convencionais em busca de maior realização profissional. No caminho inverso, estão profissionais de áreas diversas, como biólogos, publicitários, designers. Antes, esse grupo recebia do primeiro o rótulo de alternativo. Hoje, a quantidade de oportunidades de trabalho e negócios com fundo socioambiental é suficiente para permitir que um profissional enxergue uma perspectiva de carreira de mais longo prazo na área. “Vi na sustentabilidade uma oportunidade de mercado”, diz a administradora paulistana Taís Carolina Lucilio da Silva, de 30 anos. Ela trocou uma carreira de dez anos como vendedora para montar uma consultoria de marketing para empresas verdes e desenvolver uma marca de roupas ecologicamente correta. “Apesar de ter um bom crescimento na minha carreira, chegou um momento em que percebi que precisava de satisfação pessoal”, diz Taís.

Douglas Siqueira, 41 anos, economista e administrador “Sempre fui empreendedor. No Hub tenho contato diário com diversos tipos de projetos e me sinto ainda mais estimulado a criar. Isso faz com que eu esteja sempre revisando meus conceitos”
A facilidade de fazer contatos é um dos grandes atrativos do Hub. Todos os dias, às 5 da tarde, Maria, a coordenadora, convoca quem estiver no local para uma pausa regada a café, biscoitos e discussões. A cada encontro um dos frequentadores fala sobre seu projeto, mostra quais problemas enfrenta, recebe sugestões e orientações dos participantes. “Estimulamos as conexões entre membros”, diz Maria. “No Hub, posso trocar experiências com profissionais que têm uma visão de mundo semelhante a minha”, diz a advogada Barbara da Costa Pinto Oliveira, de 32 anos, que criou uma consultoria de treinamento e gestão focada em sustentabilidade. Essa integração foi fundamental para Douglas Siqueira, de 41 anos, economista e administrador. À frente da ONG Navega São Paulo, que estimula políticas e práticas para despoluir o Rio Tietê, ele usa o Hub como escritório e contata os profi ssionais que o cercam para desenvolver seu projeto. Numa das ações recentes da ONG, Douglas contou com o auxílio de uma assessoria de imprensa, de uma profissional que trabalha com créditos de carbono e de uma pequena equipe de eventos que trabalham no Hub. “A ação só foi possível graças a esses profissionais”, diz.
Barbara da Costa Pinto Oliveira, 32 anos, advogada “Poucos têm conhecimento amplo sobre sustentabilidade. É preciso entender as implicações ambientais, sociais e econômicas da questão. Há muito espaço neste mercado”
Além do compromisso com a sustentabilidade, os membros do Hub têm outra característica em comum: a vocação empreendedora. Douglas é um ótimo exemplo. Com uma carreira estabelecida na área de marketing, já deixou o emprego para abrir um bar e, depois, para administrar a Navega São Paulo. “Criar está no meu DNA”, diz. O fomento ao empreendedorismo não fica restrito aos membros. Diretores de instituições como Amana Key e banco Santander participam do projeto de coaching coletivo Vitamina C, que coloca frente a frente empresários e empreendedores. O objetivo é fazer com que do encontro surjam novas práticas empresariais. “As empresas nos procuram porque aqui têm fácil acesso a ideias inovadoras”, explica Maria Piza.

(Fonte: Revista Você S/A, Desenvolva sua Carreira, edição 0136)

Apresentação do Tema

HUB - Centro de Integração Empreendedora e Criativa

A cada dia cresce o número de profissionais que preferem trabalhar em sua própria casa. Esses profissionais podem ser autônomos ou empregados de uma empresa, que já percebe a tendência de trabalho do mundo atual e coloca parte de seus funcionários em sistema home-office. Essa tendência mundial visa não só ganho de espaço, tempo, e qualidade de vida, como também a redução de CO2 e do trânisto da cidade. Naturalmente o conceito de home-office é dirigido aos profissionais do conhecimento, não ao operário de fábrica ou ao atendente de uma loja varejista, mas o cenário cada vez mais comum de indústrias 100% automatizadas, e do varejo primordialmente on-line, a tedendência é que quase todo trabalhador do futuro será um profissional do conhecimento.
As principais vantagens dos profissionais que optam por trabalharem casa são a redução de gastos com infra-estrutura, como aluguel, condomínio, conservação e limpeza de um escritório, água, energia elétrica, serviço de internet banda larga, assim como móveis e equipamentos, sendo que em casa, as pessoas naturalmente já dipoe de todos os equipamentos necessários para o trabalho.
Porém, existem desvantagens nessa nova forma de trabalhar. Telefonemas e visitas domésticas podem tirar a concentração, assim como o trabalho da empregada, ou a brincadeira dos filhos. A flexibilidade de horário e o ambiente familiar podem gerar algum comodismo e a falta de um lugar conveniente para receber um cliente, fornecedor, ou fazer uma reunião podem serem vistos como problemas. Mas a principal desvantagem, apontada por pessoas que vivenciaram, ou vivenciam essa experiência de trabalhar dessa forma é a sensação de isolamento. O homem é por natureza um ser social, e mesmo a pessoa que não é do tipo mais sociável, necessita dessa integação com outras pessoas. Essa é a maior desvantagem do home-office, a ausência de trocas sociais.
Como concequência disso, um novo conceito surguiu, com a essência do home-office, sem suas desvantagens, e principalmente, estimulando as trocas sociais entre os profissionais. Esse novo conceito chama-se co-working, que significa compartilhar um espaço de trabalho, com profissionais autônomos de diversas áreas. Essa nova configuração social de trabalho, fez surgir um novo pograma arquitetônico, com um novo conceito de espaço de trabalho. O termo usado é “hub”.
Originalmente, a informática utiliza o termo “hub”, ou concentrador, para designar a parte central de uma conexão em rede. Ele é o dispositivo ativo que concentra a ligação entre diversos computadores que estão em uma rede de área local, nele é possível ter várias portas, ou seja, entradas para conectar o cabo de rede de cada computador. O termo “hub” também é usado na aviação comercial. Não é uma mera coincidência, visto que seu significado é concentrador de tráfego áereo, ou seja, um aeroporto que se destaca no contexto de país ou região como foco de grande número de vôos.
Esses significados do termo são denominados para definir o novo espaço de trabalho, então o hub seria um espaço para trabalhar, criar, se reunir e se conectar. Um local que acolhe pessoas das mais diversas formações e contextos, e através da comunicação e do compartilhamento de idéias, favorece a produção das mais diversas finalidades. Atuando como concentrador, ele converge o trabalho, vida social, lazer e aprendizagem.
Atualmente existem 25 hubs pelo mundo, locais que vêm sendo transformados e convertidos em espaço de trabalho, trabalhando com flexibilidade, sempre se modificando de acordo com as necessidades individuais e coletivas. Poucas são as obras excecutadas especificamente para esse fim, mas a tendência é que se tornarão cada vez mais frenquentes, a medida que a rede de computadores for se expandindo e ficando mais acessível a todos.
A mudança de mentalidade para um pensamento mais global, e a intenção de fazer através da colaboração, torna os hubs espaços cheios de potencialidades onde é possível ampliar as estratégias de atuação.